Sunday, November 16, 2008

Assim, como tu.

Toca, sozinho, na berma do passeio
Um violino cansado
Toca, sem pressas
Ecoando por todo o lado
Sente, triste, a lenta pressa do amor
Pensa, existe, a languidez do fervor

Toca, escondido, na minha cabeça
Um violino assustado
Diz-me, em segredo
Um passado sussurrado
Vive, fanático, o choro do perder
Canta, estático, a história do temer.

Toca, sentido, notas de sofrimento
Um violino desesperado
Fala-me dos acordes perdidos
Aos quais estava habituado
Morre, olhado, pelos felizes peões
Deixa-se ir, calado, pelo choro das desilusões.

Oh, foi agora encharcado pela suja lama...
Assim que dei conta do lado vazio da minha cama.

Monday, November 3, 2008

Vai sim.

Vanessa da Mata - Você vai me destruir

"Está acabando o amor
Você ainda não veio
Não disse não ligou
Se vem viver comigo

Se me quer como amiga
Se não quer mais me ver
Você vai me esquecer
Você vai me fazer padecer

Está acabando o amor
Você já não me pertence
Eu vejo por aí
Você não está comigo

Nessa nossa disputa
Nesse seu jeito bom
Eu não quero saber
Você vai desdenhar
E vai sofrer e vai perder

Você vai me destruir
Como uma faca cortando as etapas
Furando ao redor
Me indignando, me enchendo de tédio
Roubando o meu ar
Me deixa só e depois não consegue
Não me satisfaz

Pensando em te matar de amor ou de dor eu te espero calada

(Me pinte, me pegue
Me sirva, me entregue
Me deixe, me coma
Me envolva, me ame)"

Hoje é a música que (me) mostra como estou.

É uma pena.

Pára. Não sou o mapa das tuas férias, onde riscas uns quaisquer planos confusos. Não sou o teu fim-de-semana. Não sou o sofá quente onde descansas depois de um duro dia. Não sou a cama lavada onde te recompões. Chega. Não irei ser mais o fundo do vaso quebrado, onde terra limpa não chega. Não irei, nunca mais! Não olharás de novo para mim com aquele olhar de mesericórdia, onde um pedido de desculpas é censurado e a razão camuflada prevalece sobre qualquer hipocrisia.
Pensa. As chapadas sem mão aleijam, e não é pouco. As costas doem-me, tenho os pés cansados, fartos, aborrecidos de tanto andar atrás da tua sombra. Não quero. Não quero ser o escape, não quero um beijo fugaz, nem sequer um abraço mal dado. Não quero um amor cansado. Não quero uma paixão farta.
É pouco. Tudo é pouco. É pouco o que me dás, é pouco o que me ensinas, tiras mais de mim do que tenho, deixas-me menos do que preciso. É pouco. É escasso o teu amor, é escasso o teu fervor, é escasso o colo que já nem reconforta. É escassa a essência de éramos feitos...
Lembras-te?
Éramos jovens, razões triviais, éramos quentes e apaixonados; cúmplices e enamorados. Éramos nós...
Vai-te embora, sai daqui. Não batas com a porta, porque o barulho incomoda-me. Não me pises, não grites, não chores. Simplesmente sai, do jeito mudo como aquele com o qual me ensinaste a viver. Shiu! Não fales. Hoje decidi eu o que quero. E o que eu quero não és tu. Já quis...
Lembras-te?
Procurei-te incansavelmente. Corri pelas dunas, molhei-me com a chuva, queimei-me com o sol, mas tive-te. Eras meu. Quis-te.
Agora, sai!

Sunday, October 26, 2008

Pés nus, alma agarrada.

Cortei os pés nos pedaços de vidro que deixaste no chão. Restos efémeros de uma janela que quebraste, só porque querias um pouco mais de ar, de liberdade. A ousadia de caminhar descalça fez com que o sangue borrasse a madeira tosca, como a tinta borra o papel, em jeitos imprecisos e confusos.
Dei os primeiros passos lentamente, sacrifiquei-me. E mesmo sentido a dor aguda causada pelos pequenos e infinitos cortes, continuei a caminhar. Ainda conseguia ver o teu vulto, ao longe, que se dissipava aos poucos, numa grossa nuvem de dúvidas. Continuei. E os constantes passos que dava iam-se transformando em abafados gritos de dor.
Outrora, com a vontade de te aprisionar, converti a força de te agarrar em pensamentos apagados pela saudade. A mão que te estendia, ficou frouxa, solitária, ao sentir a tua ausência, enquanto a distância entre nós aumentava. E então caminhei.
Entraste numa sala escura, onde as paredes não se fechavam. Sentaste-te a um canto, cansado de tanto fugir e, mesmo na escuridão, consegui vislumbrar o pequeno brilho que ainda guardavas nos teus olhos. Aproximei-me de ti, com passos lentos, até poder ouvir novamente a tua respiração, senti-la no meu pescoço, como se fosse um quente abraço. Mas não te agarrei.
Ao longe, uma janela embaciada pela lua atraía-te. Num rápido e doloroso segundo, levantaste-te, quebraste o vidro azul, e deixei de te ver. Sustive a respiração, talvez por não querer acreditar que te tinhas ido embora, talvez por não me querer sucumbir à tentação de te perseguir e, ao último suspiro, numa última tentativa, caminhei.
Não sei de ti, não sei de nós. Por mais que te apresses, em corridas sem destino, acabas sempre a um canto, onde me olhas com ternura, onde me queres, sem o querer.
Descobri hoje que os restos da tua liberdade me cortam os pés. E dói. Não por querer, mas por não o merecer. E sangra, não de mim, mas do ontem apressado, do hoje naufragado e do amanhã destruído. Simplesmente, dói.

Saturday, October 25, 2008

E a música de hoje foi:

Vicente Amigo - Tres notas para decir te quiero

Cerca de 5 minutos em que o corpo abana e as memórias também. ;)

Tuesday, October 21, 2008

?

Acabei de ficar a olhar para a caixa de texto vazia durante cerca de 5 minutos.
O título é um ponto de interrogação. A vida, essa, umas meras reticências.
(É por estas e por outras que as exclamações às vezes magoam.)


Nunca disse que este post iria ter sentido. Também nunca me disseram que a vida fosse ter sentido algum. E assim fico, dando o dito por não dito.

Saturday, October 18, 2008

De volta. (C:\Joana\Docs\Meus Textos)


Sentada num rochedo, observo a vida aos meus pés.
O ponto de origem está cravado sobre o mar, sobre as ondas sufocantes que, com toda a sua força, me beijam a alma. Todo o qualquer ruído transforma-se agora numa hora muda e nua que repusa no colo do céu, calmo e discreto, no conforto e na empatia da natureza.
Nasce em mim o poder de reflexão, a vontade de olhar para dentro, de descobrir a força que o mar furioso me dá. Há horas inquietantes, que se dissipam com a maresia.
A espuma, curiosa, cobre os cinzentos e ásperos rochedos e, num jeito de ironia, efémeros. A vida começa e acaba aqui – nasci no berço do mar, cresci com a melodia do doce inverno, dormi sobre a fria espuma, repousei os pés cansados na infinita areia que, como a minha vida, me mata.
O ponto de origem mora aqui. É aqui que encontro, reencontro e perco. É aqui que vivo, onde os sorriso molhados pelas lágrimas e a música que transparece nas guitarras decoram a paisagem do “eu”.
Pela última vez, olho o mar. E a dança bruta da ondulação ilustra o assumido estado de espírito. E agora? Agora choro. Grito, esperneio. Só porque hoje renasci.